Eu não gosto de carregar peso. Não carrego carteira no bolso, não gosto de carregar chaves, e sempre que posso tiro meu relógio do pulso. E quando vou deitar, tiro minha aliança do dedo também. Podem falar que tenho paranóia de leveza.
Pois bem. Há alguns dias, minha esposa e eu estávamos para deixar o hotel onde estávamos hospedados. Ainda não iríamos voltar para casa, mas seguir viagem para outra cidade onde tínhamos outros compromissos a manter. Quando fui fechar minha mala, notei que estava mais cheia de que quando chegamos no hotel. Quando fui ver bem, descobri o porquê: Minha querida esposa tinha tirado alguns itens da mala dela, que também já estava mais cheia, e colocado na minha (não me pergunte como que ela consegue voltar para casa com mais coisas na mala que quando saímos).
Eu amo a minha esposa, mas odeio mala pesada e estufada de coisas. Então, respirei fundo, fechei a mala, e fiz um comentário ao sairmos do quarto do hotel: “Eu percebi que você colocou algumas coisas da sua mala na minha.” Ela disse, “Ah sim, a sua tinha bastante espaço, e a minha já está cheia.” Foi aí que eu deveria ter ficado calado. Fim da história. Afinal, fazia sentido. A dela já estava cheia, a minha tinha espaço sobrando — até eu teria feito o mesmo.
Mas eu tinha que abrir a minha boca e falar mais uma coisa.
“Mas essa é exatamente a idéia — eu não quero ela cheia,” eu respondi, esperando que as minhas palavras ajudariam evitar que a minha mala ficasse ainda mais cheia na nossa próxima parada. Mas ao invés disso, o que eu consegui foram essas palavras:
“Você é egoísta! Por quê eu não posso pôr algumas coisas minhas na sua mala? Sou eu que sempre faço as nossas malas e você nem reconhece...”
Au! Essa doeu... E por essa eu não esperava!
Fiquei sem palavras. Depois de alguns minutos para me recompor, ainda meio zonzo da pancada, eu perguntei à Cris em tom de humor: “Só me diz uma coisa: Como é que a palavra “egoísta” conseguiu entrar numa conversa sobre mala depois de apenas três frases?” E nós dois rimos da situação.
No caminho ao aeroporto eu fiquei pensando sobre aquela troca de palavras, e como é fácil para qualquer casal começar uma discussão sobre as coisas mais insignificantes. É só juntar o estresse à má escolha de palavras, e acrescentar um pouquinho de orgulho a gosto, que o resultado será uma explosão.
Meninos, isso pode acontecer mais rápido que uma Lamborghini faz de 0-100km/h. Meninas, isso é mais rápido de que vocês conseguem passar batom enquanto dirige, dar uma olhada no retrovisor para checar os lábios, e ainda manter a atenção na estrada ao mesmo tempo.
E eis aqui o que vocês podem fazer para evitar tais explosões:
Mantenha a conversa a 1 metro do chão – O que aconteceu quando a Cris atirou a palavra “egoísta” contra mim foi que ela elevou a altitude da conversa de 1 para 15 mil metros de altura, assim do nada. Lá estava eu fazendo um comentário de passagem sobre a minha mala e ela de repente levou o assunto ao nível de ataque ao caráter. Não foi por menos que me senti zonzo... Ela subiu demais, e rápido demais! Quando você e seu parceiro estão conversando, mantenham-se no assunto em questão. Se a conversa é sobre comida, não atire a palavra “insensível” ou a frase “você não se importa com o que eu gosto” no meio. Atenha-se ao assunto do arroz queimado e como você prefere o arroz da próxima vez. E se você realmente quer falar sobre algo de nível mais alto, então certifique-se de ser bem mais cuidadoso ao abordar o assunto. Tenha uma outra conversa separada, outro dia. “Amor, eu queria conversar sobre como as vezes eu sinto que você nem sempre acomoda o meu gosto como eu acomodo o seu.”
Saiba quando deixar quieto – Se eu houvesse parado depois do meu primeiro comentário, quando a Cris me havia dado uma resposta plenamente justa, nada daquilo teria acontecido. O problema é que nós ás vezes falamos demais. Queremos ter a última palavra. Poderíamos parar e deixar passar, mas sentimos que temos que continuar e provar nosso argumento. Acredite, isso não compensa. Lembre-se disso: Há certas coisas que acontecem numa relação que você não deve deixar passar, mas elas são poucas e raras. A maioria das vezes você pode deixar quieto e esquecer. A vida é curta demais para ficar chateado e brigando por coisas bobas.
Palavras são gatilhos – Eu já vi isso muitas vezes em aconselhamento matrimonial. Na maioria das vezes, os casais brigam não porque discordam sobre princípios fundamentais, mas sim porque escolhem as palavras erradas para comunicar o que pensam e sentem um pelo outro. Cuidar do que você fala e como você fala é uma das habilidades mais importantes que você pode desenvolver num relacionamento.
Ria da situação – Quando alguém pisa no seu calo, você tem duas escolhas: ou você pisa no calo da outra pessoa, ou sente a dor, passa a mão para aliviar, e segue em frente. O bom humor ajuda a aliviar os momentos tensos de um relacionamento. Você precisa aprender a usar de bom humor e também aceitar quando o seu parceiro faz o mesmo para aliviar a tensão entre vocês. O fato de eu ter rido de como a palavra “egoísta” veio do nada na nossa conversa ajudou a mim e a Cris a parar antes de alguém se ferir, e seguir em frente.
Com certeza eu poderia ter me exaltado e transformado nossa conversa em uma grande discussão, atacado a Cris com palavras, e alimentado uma mágoa depois. Mas eu tenho paranóia de leveza.
Eu não gosto de carregar peso.
Renato Cardoso
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